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A revolução TikTok e porque estamos fissurados em um aplicativo


Por Luzia Stefany Monteiro




“Você não tem o TikTok instalado?”, “deixa eu te mostrar esse vídeo do TikTok” ou “que horror, você usa TikTok?!”. Não adianta, se você possui um aparelho celular com internet e está vivo no momento, com certeza ouviu uma dessas frases nos últimos anos. Com a obrigação de ficarmos isolados devido a pandemia da Covid-19, era natural que usássemos a internet para nos conectar nesse momento conturbado, o que de fato ocorreu, principalmente através da rede social aqui em questão. Sendo um adepto ou não, não há como negar o impacto do aplicativo de vídeos mais popular da atualidade.


Surgido na China ainda em 2016, o TikTok teve como principal influência o Vine, rede social que surgiu em 2013 com a possibilidade de gravar e editar vídeos de apenas 6 segundos de duração. Os vídeos possuíam um teor divertido e se tornaram virais entre os jovens da época. Outros aplicativos de vídeos rápidos e divertidos se popularizaram, como o Dubsmash, que trazia a proposta de gravar alguém por 15 segundos dublando áudios, e o Musical.ly, que era focado na dublagem de músicas, mas também trazia a possibilidade de edições de vídeo inovadoras e popularizou a ideia de desafios e coreografias.


Em 2017, o Vine foi encerrado por definitivo e o TikTok se fundiu ao irmão chinês Musical.ly, como um grande passo para o império asiático da tecnologia. Até então, alguns usuários que produziam conteúdo nesses aplicativos haviam se tornado famosos na internet e utilizavam outras redes sociais e plataformas para impulsionar seus alcances, mas ninguém poderia imaginar o quanto o TikTok se tornaria presente em nossas vidas. Em 2018, ele se tornou o aplicativo mais baixado nos Estados Unidos, superando o Facebook e Instagram, e estava disponível em 75 idiomas.


Hoje, o TikTok possui diversas tendências dentre seus usuários, as hashtags e áudios utilizados facilitam o acesso a vídeos da mesma categoria e possibilitam que contas anônimas se popularizem de repente. Os conteúdos foram expandidos e hoje são os mais diversos possíveis, deixando a criatividade à solta na plataforma. Se engana quem julga o aplicativo como superficial, a tecnologia utilizada nele, através de curtidas e tempo de vídeo assistido, proporciona conteúdos cada vez mais específicos para cada usuário, o que agrega aos mais diversos públicos. A febre entre os filhos da casa deixou de ser apenas entre eles, a família toda se apegou ao app queridinho.


Outro ponto muito importante que aqui deve ser abordado é a indústria musical, talvez esse seja o primeiro maior impacto do aplicativo. Desde a popularização do Musical.ly, artistas passaram a utilizar desafios e danças nas plataformas digitais como estratégia de divulgação para suas músicas. Um exemplo foi o rapper norte-americano Drake com a canção “In My Feelings”, que dominou as paradas musicais em 2018 ao lançar um desafio de dança para a música, através da hashtag #InMyFeelingsChallenge. Outro exemplo foi a cantora Lizzo, que ficou popular com a canção “Truth Hurts”. O curioso deste caso é que a canção havia sido lançada em 2017 e apenas em 2019 recebeu a fama que merecia através do TikTok, o que se tornou comum com canções antigas após o surgimento do aplicativo.


A partir disso, criou-se uma grande mudança na forma de divulgação e consumo musical, a maioria dos artistas da música popular passou a lançar canções já com uma estratégia elaborada para fazer sucesso no aplicativo. Outros passaram a ter o chamado “sucesso orgânico”, que se trata de quando o artista é desconhecido ou a canção não é divulgada por uma grande gravadora, mas os usuários passam a utilizá-la e ganha o gosto do público. De fato, surgiu uma espécie de vínculo midiático entre o TikTok e as plataformas de música (stream). Hoje, nas paradas das músicas mais reproduzidas em cada país, grande parte é composta por canções que viralizaram primeiro nos vídeos do app.


A parte econômica também é algo surpreendente no que se refere ao aplicativo. Além dos anúncios que passam ao rolar a tela, o TikTok chegou aos locais tradicionais da mídia, um exemplo é a rede social patrocinar o reality show Big Brother Brasil da Rede Globo e até o Jornal Nacional. Recentemente, outro exemplo do alcance do app foi a Eurocopa, disputa entre as seleções de futebol da Europa, ter sido transmitida ao vivo dentro da plataforma em parceria com a emissora de televisão TNT, na intenção de expandir o público. O aplicativo mostra-se ambicioso e tende a crescer ainda mais.


Outro ponto de impacto é a abrangência que vídeos curtos tomaram na internet. Quer dizer, você não precisa estar ativamente presente no aplicativo, ele vai chegar até você de uma forma ou outra. Por um lado, com a possibilidade de fazer o download dos vídeos para compartilhar em outras redes sociais, seja Whatsapp, Twitter, YouTube ou Instagram. E por outro, com a apropriação do formato em outras redes, o maior caso se tratando do Instagram, que até tentou comprar a plataforma, sem obter êxito, então tem passado a utilizar cada vez mais ferramentas que se assemelham ao TikTok, para manter o público no aplicativo e evitar que migrem para o outro.


Além disso, a disputa entre o Instagram e outras redes não é de agora. Essa rede, que surgiu com a proposta de compartilhar fotos instantâneas, já se apropriou das ferramentas de outra rede, o Snapchat, trazendo a possibilidade do compartilhamento de várias fotos ou vídeos durante o dia por tempo limitado, assim como o uso de filtros. No caso do TikTok, o Instagram passou a reduzir o engajamento do compartilhamento de vídeos que fossem baixados da outra rede e até mesmo reduzir o alcance de quem citasse o nome da plataforma dentro de seu sistema.


Hoje, é possível visualizar o grande fluxo de vídeos rápidos dentro do Instagram, através da ferramenta Reels. Isso inclusive gera o distanciamento de alguns usuários, que usavam a rede para fins fotográficos, mas acabaram recebendo uma espécie de cópia da rede ao lado, o TikTok. A tendência de vídeos curtos inclusive chegou ao YouTube, que passou a utilizar uma ferramenta de compartilhamento por tempo limitado semelhante ao Stories do Instagram, mas que geralmente é recomendado ao usuário apenas vídeos curtos relacionados ao conteúdo que você assiste na plataforma.


Nesse caso, fica o questionamento quanto a duração dessa tendência na internet. Alguns acreditam que o formato chegou para ficar, já que a proposta traz informação de maneira rápida e descontraída às telas de celular. A rapidez é algo valorizado pelos usuários, que não costumam passar muito tempo focados em um só conteúdo, logo buscando outros que os agradem ou satisfaçam as suas buscas. Por outro lado, um outro público da internet passa a buscar o desuso de determinadas plataformas, devido a diversas consequências, como o tempo gasto no telefone ser maior que o que sentem que seja necessário e saudável e a dificuldade de concentração em suas atividades.


Outra preocupação quanto à popularidade do TikTok é a presença do público infantil no app, já que as crianças se relacionam cada vez mais com a tecnologia nos dias de hoje. A questão se torna preocupante não apenas pelas consequências negativas que podem surgir no sistema cognitivo das próximas gerações, como também questões como pedofilia e até perigos contra a própria vida. Em 2019, o aplicativo foi processado devido à “falta de atenção à proteção de menores”.


O caso voltou a ser debatido em 2021, quando pelo menos duas crianças morreram devido ao “Desafio do Blackout”, tendência que surgiu antes do aplicativo, mas ressurgiu como uma hashtag. O desafio consistia em enrolar algo no pescoço e prender a respiração enquanto gravava um vídeo, o que acabou gerando vítimas fatais. A rede se manifestou sobre o caso e afirmou ter bloqueado conteúdos do tipo, além de pedir a colaboração dos pais quanto ao monitoramento dos filhos.


Diante disso tudo, é evidente que o público tem suas preocupações e desprazeres quanto ao uso do TikTok, mas torna-se inviável negar a revolução que um único aplicativo tem feito na tecnologia global em poucos anos. Nos tornamos fissurados, por ele estar presente quando estamos sozinhos, no grupo de amigos, na família e até na mídia tradicional. Essa análise teve a intenção de refletir como o uso do aplicativo aqui citado não é algo isolado, é um fenômeno válido para estudos comunicacionais quanto ao comportamento social da atualidade através da tecnologia.


A coluna Observatório de Mídia é atualizada quinzenalmente às quintas-feiras. Leia, opine, compartilhe e curta. Use a hashtag #observatorionossaciencia. Estamos no Facebook (nossaciencia), Twitter (nossaciencia), Instagram (nossaciencia) e temos email (redacao@nossaciencia.com.br).



JOII – Grupo de pesquisa em Jornalismo, Inovação e Igualdade da Universidade Federal do Piauí.

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